sábado, 12 de fevereiro de 2011

Quintal das lembranças


Raul Seixas
O eterno maluco beleza


"Sim, curvo-me ante a beleza de ser.
Às vezes zombo de mim mesmo ao término de uma
inteligente e aguçada constatação.
Ermitão do insólito, poeta da dúvida.
Entretanto, duvido a dúvida por ser dúvida
fruto de uma premissa lógica.
Mas nego, afirmo e não duvido de nada.
Prisioneiro sem grade desse silêncio eterno"


Se a minha geração teve muito do seu comportamento moldado pelas letras politizadas e melancólicas da Legião Urbana, meio que nadando contra a corrente fui beber em outra fonte, que em certa medida guardava traços de semelhança com o pessoal de Brasília, mas ao mesmo tempo incursava por universos completamente novos, inimagináveis e fascinantes para um garoto que beirava seus 12 anos. Essa fonte chamava-se Raul Seixas.

Pai do rock brasileiro, maluco beleza, Raulzito... muitos são os codinomes atribuídos a este genial soteropolitano nascido em 28 de junho de 1945 e morto no dia 21 de agosto de 1989 na capital paulista, em decorrência de uma pancreatite aguda, fruto do consumo excessivo de álcool.

Talvez este seja o traço mais marcante de sua personalidade, o gosto pelos excessos, de quem constantemente caminha à beira de abismos só para sentir o gosto da adrenalina diluída no sangue.

Sobre sua carreira não discorrerei. Basta uma rápida visita ao Wikipédia e tudo estará lá, esmiuçado nos mínimos detalhes. Sobre a parceria com o "mago" e acadêmico Paulo Coelho... difícil dizer até que ponto essa amizade foi benéfica ou prejudicial para o Raul. Não fosse Paulo Coelho, não teríamos as letras geniais de "Gita", "Eu nasci há 10 mil anos atrás", "Meu amigo Pedro", "Quando você crescer" e tantas outras. Por outro lado, não fosse a influência de Paulo, Raul não teria entrado de cabeça no ocultismo, nas viagens lisérgicas pelas sociedades secretas, no esoterismo hippie regado pelo consumo das drogas. Difícil dimensionar. Será que sem todas essas "viagens", o maluco beleza Raul Seixas seria menos Raul do que ele foi?

De toda sorte, prefiro ficar com as lembranças que suas letras despertaram em mim um dia e que até hoje me acompanham: um traço marcante de irreverência, um certo desprezo pelos valores cultuados pela sociedade cada vez mais fútil e consumista, algum romantismo adolescente, de quem mesmo maluco sabia ouvir a voz do coração, um certo ar de mistério e encantamento diante da espaçonave que virá do futuro, carregada de notícias do Novo Aeon.

 Maluco Beleza

 Eu também vou reclamar

 Gita

 
O trem das sete

 
A maçã

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