terça-feira, 10 de maio de 2011

Esses chopes dourados

Verdes bandejas de ágata, meus olhos amarelos 
caminham para mim pela milésima vez 
enquanto estou cercado por brancos azulejos 
e amparado por uma toalha de quadros. 
No útero deste bar vou me elevando 
e saio da noite cheia de ruídos 
para a manhã do mar 
onde tudo é sal, impossível alquimia 
disfarçada num domingo


Amável, 
esta manhã me aturde, manhã de equívocos 
onde um sábado moribundo se entrega sem rancor. 
Meu sábado, belíssima ave negra de olho aceso,  
cai nas muralhas do sol como um herói melancólico 
enquanto o mar abre o sorriso de dentes brancos 
lavados na areia alvura. 

Caminho para o sol que me atrai mecanicamente: 

                                                                                - Vou te decifrar, domingo;   
                                                                               diante de mim tua esfinge se enche de pudor.

quando a geração de meu pai
batia na minha
a minha achava que era normal
que a geração de cima
só podia educar a de baixo
batendo

quando a minha geração batia na de vocês
ainda não sabia que estava errado
mas a geração de vocês já sabia
e cresceu odiando a geração de cima

aí chegou esta hora
em que todas as gerações já sabem de tudo
e é péssimo
ter pertencido à geração do meio

tendo errado quando apanhou da de cima
e errado quando bateu na de baixo

e sabendo que apesar de amaldiçoados
éramos todos inocentes 

(Jorge Wanderley)

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