domingo, 27 de novembro de 2011

O presente não existe...

Não é extraordinário pensar que dos três tempos em que dividimos o tempo - o passado, o presente e o futuro -, o mais difícil, o mais inapreensível, seja o presente? O presente é tão incompreensível como o ponto, pois, se o imaginarmos em extensão, não existe; temos que imaginar que o presente aparente viria a ser um pouco o passado e um pouco o futuro. Ou seja, sentimos a passagem do tempo. Quando me refiro à passagem do tempo, falo de uma coisa que todos nós sentimos. Se falo do presente, pelo contrário, estarei falando de uma entidade abstrata. O presente não é um dado imediato da consciência.

Sentimo-nos deslizar pelo tempo, isto é, podemos pensar que passamos do futuro para o passado, ou do passado para o futuro, mas não há um momento em que possamos dizer ao tempo: «Detém-te! És tão belo...!», como dizia Goethe. O presente não se detém. Não poderíamos imaginar um presente puro; seria nulo. O presente contém sempre uma partícula de passado e uma partícula de futuro, e parece que isso é necessário ao tempo. 

Jorge Luís Borges, in 'Ensaio: O Tempo'

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

O mais belo tango de Piazzolla



Quando o músico e compositor argentino Ástor Pantaleón Piazzolla (11/03/1921 - 04/04/1992) escreveu o tango Adiós Nonino, disse que talvez estivesse rodeado por anjos, e que dificilmente faria algo melhor.

A canção foi composta em outubro de 1959, época em que Piazzolla residia em Nova Iorque. Ele a compôs em homenagem ao seu pai, Vicente Piazzola, falecido há poucos dias, a quem seu filho chamava de Nonino (avozinho em italiano).

Apesar de ser considerada um réquiem (composição em honra aos mortos), Adiós Nonino invoca uma alegre melancolia, simbolizando que a saudade daqueles que se foram não necessariamente precisa vir de mãos dadas com a tristeza.